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Conceição da Abóboda

“A ideia de parcos recursos só principiou a sentir os ventos do progresso na década de setenta, quando algumas velhas moradias foram sendo substituídas por novos edifícios e, mais modernamente, com a implantação de uma zona fabril.

Não se sabe quando se iniciou o povoamento, mas fragmentos de cerâmica pré-histórica, recolhidos no lado poente da povoação, indicam a presença humana naquele local desde muito cedo.

Terá sido, certamente, no final da Idade Média que a ermida foi construída. Segundo reza a lenda, um nobre cavaleiro escapara milagrosamente da morte, quando caçava na região. Então, ao saber, pela população, que Nossa Senhora ali aparecera já e atribuindo também à sua intercessão a sua salvação, decidiu mandar construir uma ermida no local onde se assinalara o primeiro milagre.

A tradição refere que a uma menina, pobre pastora, que chorava com fome, apareceu uma linda Senhora, a quem a jovem pediu pão para comer. A Senhora que não tinha nada para satisfazer o pedido da menina, ao vê-la tão chorosa e triste, indicou-lhe um casal no fundo do vale (Freiria) onde encontraria uma mulher a fazer pão. Chegada ao local apontado, a criança lá encontrou o forno aceso e uma mulher a enfornar o pão, a quem pediu de comer. A camponesa retirou um pedaço de massa, fez uma bola e colocou-a no forno donde saiu um pão muito grande, que deu à menina. Depois, cada vez que voltava a pôr massa no forno, saíam bolas de pão muito maiores que habitualmente.

Estranharam as gentes do casal como a menina ali fora ter. Ao ser-lhe perguntado, contou o sucedido. Perante o insólito da situação chamados os saloios do lugar, procuraram, no sítio indicado, a Senhora tinha já desaparecido sem deixar rasto.

O povo, ainda de acordo com a lenda, atribuiu o evento a um milagre de Nossa Senhora da Conceição. Há um pouco de semelhança entre esta lenda e a que envolve a de Nossa Senhora da Peninha, que aparece a uma criança, também pastora, das Almoinhas Velhas.

Nesta lenda tira-se a indicação que a Senhora manda a menina a Freiria, local que hoje sabemos ser de grande antiguidade e ter possuído um templo e um grande celeiro, na época romana. No caso da Peninha, a pastorinha vai, por indicação da Senhora, a casa da mãe, em Almoinhas Velhas, que se situa a cerca de duzentos metros do local da “vila” romana que existia em Miroiços. Qual a relação entre estes dois milagres e as ruínas romanas?

O mais antigo registo datável relativo à capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda é de 1579. Consta da inscrição lapidar que se situa na sua capela-mor e que é a mais bela lápide tumular armoriada que se encontra no concelho de Cascais. No entanto, Frei Agostinho de Santa Maria afirma, no seu santuário Mariano, diz que a sua fundação recua a três gerações anteriores.

Nesta bela campa, a legenda, escrita em caracteres latinos, refere:

Debaixo desta pedra
Iaz tera qve de tera se ierov
E en tera se tornov
Dos mvito enlustres
Snors Diogo Frz Dalmeida Dona
M da Fraga Sva molher
Esta.S.Madov.fazer.frei.Gº de
Azevedo.comendador.Dalgoso
Pera si.e.sevs.erdeiros na qoal.iaz
Breatriz.Dazevedo.sva avo.molher
Qve.fooi.de.i.frz.Almeida.q.esta
En gloria.ax.dabril D MCCCCCXXIX

Mas demonstrativo de antiguidade da capela (se houver relação de contemporaneidade), assinala-se a existência de uma muito bela imagem, em pedra, de Nossa Senhora do Ó – culto eminentemente medieval.

Nesta capela e no convento que se lhe anexou em 1673, instalou-se um núcleo de frades da Congregação dos Agostinhos Descalços, que aqui se mantiveram por três anos. Depois, já no século XVIII (cerca de 1750), foram ocupados por frades polacos da Congregação Imaculada Conceição, que daqui saíram para Trás-os-Montes. Neste período ficou-lhes associado o nome do conhecido Pe. Casimiro Wysrynsky.

Na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda esteve instalada, no século XVIII, uma irmandade de homens do mar que se encarregava de organizar as festas, a 8 de Dezembro, em honra da padroeira.

A esta capela, após a sua construção, afluía concorrida romaria, no primeiro domingo de Agosto.”

In TEIXEIRA, Carlos A; CARDOSO, Guilherme; MIRANDA, Jorge – Registo Fotográfico da Freguesia de S. Domingos de Rana e alguns Apontamentos Histórico-administrativos, Cascais: Associação Cultural de Cascais, 2003, páginas 86 e 87